No último dia 10 de outubro aconteceu o Big Day Brasil Primavera 2015, um dia inteiro de observação de aves por todo o país, onde as aves avistadas seriam listadas de modo que, posteriormente, se pudesse apurar o número de espécies registradas num único dia.
Juntamente com Rogério Peccioli e Alexandre Mendes, fomos atrás das aves do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. Criado ao norte do estado do Rio de Janeiro em 1998 com quase 15.000 hectares, o Parna Jurubatiba foi a primeira Unidade de Conservação para o ecossistema de restinga e está compreendido entre três municípios: Macaé (uma pequena mas imprescindível parte onde se localiza a sede), Carapebus e Quissamã.
Enquanto Rogério e Alexandre foram para a Lagoa de Carapebus desde o raiar do dia, fui para a sede que fica ao lado do bairro Lagomar, sendo recebido pelo chefe da Unidade, Marcelo Pessanha. De imediato fomos andar de barco pela Lagoa de Jurubatiba, lagoa essa que é o limite dos municípios de Macaé e Carapebus. Já frequento essas restingas desde 1989, mais precisamente a Lagoa de Carapebus e nunca havia tido a oportunidade de navegar pelas suas águas. E para procurar pelas aves num ambiente tão grande o barco facilita demais o acesso às taboas e aos inúmeros “braços d’água” e canais. De imediato foi possível ver a movimentação das aves e logo pudemos chegar num taboal com alguns indivíduos de Gavião-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis), de olho nos caramujos tão abundantes no local. Aliás, o Parque é um dos poucos lugares dentro de Macaé onde esse belo rapinante é residente, podendo ser visto – mesmo que de longe – em 100% das vezes. Ao pegar o caramujo o gavião procura algum galho, que acaba sendo um ponto fixo para onde retorna toda vez que se alimenta. Por conta disso é comum ver pilhas de cascas de caramujo embaixo de algumas árvores. Tesourões, gaivotas-de-cabeça-cinza, gavião-carijó, garças, frangos-d’água e um casal de pato-do-mato deram o ar da graça e já na volta para a margem tivemos a bela visão de uma Águia-pescadora (Pandion haliaetus), espécie sazonal e que visita o parque de forma regular. Pela segunda oportunidade pude presenciar sua interação com outra espécie, no caso o Tesourão (Fregata magnificens), que partiu em sua perseguição, obrigando a águia a fugir com acrobacias espetaculares. Este é um comportamento natural do Tesourão, pois como não mergulha, sua alimentação é conseguida através dos pequenos peixes que sobem na superfície e que são apanhados pelo Tesourão em voo. Além disso, acompanha embarcações de pesca na busca de sobras e ainda persegue incansavelmente outras aves menores como atobás, trinta-réis e gaivotas, forçando-as a regurgitarem o peixe. Mesmo a águia tendo porte semelhante, isso não impediu o Tesourão de atacá-la.
Fotos feitas, era hora de tirar o barco da água, colocar a camionete na estrada – ou melhor, na areia – e seguir ao encontro do resto do grupo. No caminho outras aves foram sendo vistas e fotografadas: Mergulhão-pequeno (Tachybaptus dominicus), Noivinha-branca (Xolmis velatus), Coruja-buraqueira (Athene cunicularia), Polícia-inglesa-do-sul (Sturnella superciliaris), Caminheiro-zumbidor (Anthus lutescens) e a ameaçada Sabiá-da-praia (Mimus gilvus). Debaixo de um sol escaldante, nos encontramos na Lagoa do Paulista e seguimos para a Lagoa de Carapebus, onde mais uma vez colocaríamos os barcos na água. No caminho, o brigadista Ricardo Maia nos levou até duas árvores próximas uma da outra onde dormiam uns cinco ou seis indivíduos de Bacurau-de-asa-fina (Chordeilles acutipennis), possibilitando muitas fotos. Já na lagoa, impressionava o tamanho da mesma, sua beleza cênica, onde alguns pequenos peixes pulavam próximos do barco e depois de algum tempo entramos no histórico Canal Campos – Macaé. Com 109 km de extensão, o canal foi construído por escravos durante 17 anos e foi inaugurado em 1861 com o objetivo de escoamento da produção açucareira da região, sendo o segundo maior canal artificial do mundo, atrás apenas do canal de Suez. Obviamente que os anos de inatividade fez com que o canal fosse sendo tomado pela vegetação, além de galhos e árvores que, em alguns trechos, dificultavam nossa passagem. A natureza mostrava toda sua exuberância como a cor da água, as aves, flores, cheiro, insetos, árvores… Nada passava despercebido.
Pausa para almoçar e recarregar as energias, mas sem tempo para aquela preguiça peculiar. Agora de carro, seguimos para território de Quissamã pela extensa faixa de areia, olhando todas as lagoas do parque. Lagoa Preta, Barrinha, Casa Velha, Ubatuba e São Miguel são algumas delas e praticamente todas estavam com água abaixo do nível normal e ansiando por chuvas. Mesmo assim as aves de ambiente aquático se faziam presentes em bom número e com frequência parávamos para as fotos. Uma festa ver tantas aves de espécies diferentes se alimentando juntas. Marrecas como a Marreca-toicinho (Anas bahamensis), Irerê (Dendrocygna viduata) e a Pé-vermelho (Amazonetta brasiliensis), além de Trinta-réis, Maçaricos, Pernilongos e Batuíras.
Ao fim do dia havíamos percorrido todos os 44 km do litoral do Parque e um inesquecível pôr do sol – daqueles de encher os olhos – fechava aquele dia especial, onde foi possível o registro de 82 espécies diferentes de aves, dando assim, nossa contribuição ao Big Day Brasil Primavera 2015.
Aproveito para agradecer ao ICMBio (Instituto Chico Mendes) através da direção do Parna Jurubatiba, por toda a receptividade que tiveram conosco ao “abrir as portas” dessa importante Unidade de Conservação para essa visita, disponibilizando barcos, veículos e cito nominalmente a equipe que nos acompanhou: Marcelo Pessanha (chefe da UC), Rodrigo Mello e Ary Miranda (Analistas Ambientais) e Ricardo Maia (Chefe da Brigada de Incêndio).
Paulo Tinoco